sábado, 3 de março de 2012

Jargões dominam linguagem empresarial

Termos em inglês e dialeto corporativo ganham espaço nas grandes empresas 

O executivo chega à empresa e a primeira coisa que faz ao ligar o computador é realizar o login para acessar o seu network. Depois ele preenche um memo file e vai para uma reunião de skip level. Entendeu? Pois esta é uma nova linguagem que surge dentro do meio profissional, sobretudo, em grandes companhias, ou melhor, empresas globais. São os jargões corporativos.


Até o famoso "caixa 2", tão em voga ultimamente, ganhou definições como "recursos financeiros não contabilizados". Seja nos negócios ou na política, dizer o óbvio não basta, tem que complicar para parecer mais pomposo. Mas até onde essa onda de termos em inglês e de expressões prolixas e redundantes é necessária? "É claro que quanto mais a linguagem for clara e objetiva, melhor. No entanto, para os negócios o inglês é uma língua universal e oficial. Mas deve-se fazer um esclarecimento sobre o significado do termo e evitar o uso exagerado", sugere o especialista em recursos humanos Cícero Domingos Penha.


Na American Express (Amex), uma das maiores corporações do mundo, esta situação de usar expressões em inglês é tratada de forma dúbia. "O nosso objetivo e preocupação é falar a língua do país onde operamos.

Todos os materiais de treinamento e comunicação são traduzidos para o português. Agora, não dá para fazer isso em 100% das situações", observa o vice-presidente de Serviços de Atendimento ao Cliente da Amex no Brasil (ou em inglês se preferir, president of Costumer Service International), Mauricio Icaza. A sua função também em inglês é facilmente explicável. "Praticamente metade dos cargos da Amex é em português e inglês", destaca a gerente de comunicação ou comunication manager da Amex, Adriana Souza.


O presidente de serviços de atendimento argumenta que a globalização e os inúmeros termos advindos da informática conspiram para que a língua inglesa esteja sempre bastante presente no cotidiano dos funcionários da Amex. Além, é lógico, da origem da empresa, que está até no seu nome. "Não dá para traduzir, ao pé da letra, a palavra software (programas de computador), por exemplo. Fica uma coisa até engraçada. Nestes casos, usamos a palavra em inglês entre aspas ou em itálico. Esta é uma tendência mundial, não dá para evitar", avalia Icaza.


Ele admite que os jargões são muito usados na empresa de cartões de crédito. "Essa contradição de traduzir tudo está até no nome da American Express. Ficaria Expresso Americano, o que dá a impressão que estaríamos em um trem", brinca. Nomes próprios, principalmente de produtos, reuniões e interações dentro da estrutura da Amex, não são traduzidos. "Esta é a nossa linguagem própria e a maioria dos nomes é em inglês. Mas com os clientes só usamos para designar os produtos", define o executivo.


A empresa norte-americana atua em países de todo o mundo que falam 60 línguas diferentes. "Por isso, temos que ter esta flexibilidade. Porque uma tradução pode deixar o termo engraçado ou o conteúdo da mensagem pode perder o sentido. Precisamos ter esta flexibilidade", enfatiza Mauricio Icaza. No entanto, o executivo da Amex, que é nicaragüense, utiliza um exemplo pessoal. "Como parte da minha ética profissional e também da empresa, não iria falar ?portunhol?, quando vim morar no Brasil. Fiz questão de aprender a língua para me comunicar com os clientes e parceiros de negócios", salienta.


"A pessoa que se comunica bem no mundo empresarial precisa adequar a linguagem ao público certo, utilizando as expressões, em inglês ou português, de forma adequada e no tempo certo. Assim, ele consegue avançar na sua carreira e obtém melhores resultados", sintetiza Cícero Domingos Penha.


Skip Level


Adriana de Souza coordena as traduções dos termos, já que os treinamentos para os funcionários são em português, mas a terminologia dos sistemas e seus menus são todos em inglês. "Desenvolvemos um fórum de alinhamento de tradução padrão", revela. Ela explica que o termo skip level é usado para designar as reuniões em que participam dois funcionários de níveis hierárquicos diferentes. Já o memo file é a ficha onde os funcionários anotam as informações repassadas aos clientes. Eles fazem isso depois de se logar (colocar a senha) no terminal de computador para entrar na rede de trabalho da empresa (network).


 FERNANDES, Arthur. Jargões dominam linguagem empresarial. Correio de Urberlândia. Disponível em: http://www2.correiodeuberlandia.com.br/texto/2005/07/31/11406/jargoes_dominam_linguagem_empresari.html. Acesso em: 02/03/2012.

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