quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Grupo identifica como as palavras ganham significado no cérebro

Universidade holandesa identificou quais neurônios são ativados quando
 o cérebro procura decifrar o significado de uma palavra -  
Latinstock

Um dos enigmas do cérebro é entender como ele identifica o significado das palavras — e, a partir daí, constrói frases inteiras. Esta etapa, fundamental para a leitura de mentes, começou a ser decifrada na Universidade de Maastricht, na Holanda. 

A equipe do pesquisador João Correia identificou que área do órgão interpreta as palavras e viu que o modo como esta informação é decifrada pelo cérebro é o mesmo, independentemente do idioma usado, ao menos se as aprendemos em um mesmo período da vida.

Além de nos deixar mais próximos de traduzir pensamentos, a pesquisa conta com aplicações médicas. Entender a atividade cerebral envolvida com o significado das palavras aproxima os especialistas da percepção que os pacientes têm de suas próprias disfunções cerebrais. Uma delas seria a síndrome do encarceramento, onde o corpo inteiro, à exceção dos olhos, é paralisado — e, apesar disso, as faculdades mentais permanecem perfeitas.

Hoje, a medicina consegue ocasionalmente distinguir que palavras estamos ouvindo. Correia, no entanto, tentou ir além da pura representação no cérebro das palavras. Sua meta era identificar a atividade que cerca seus significados. Em algum local no órgão, a interpretação escrita e falada estaria integrada, unificando o entendimento.

Testes feitos em inglês e holandês

Para chegar a esta região, Correia fez uma ressonância magnética funcional de oito pessoas. Todos elas eram bilíngues, sendo o holandês seu idioma nativo. Estes voluntários aprenderam, em inglês, o nome de quatro animais — touro, cavalo, tubarão e pato. Foram escolhidas as palavras mais semelhantes possíveis. Em inglês, têm apenas uma sílaba; compartilham o mesmo conceito — são nomes de animais —; e costumam são aprendidas no mesmo período da vida, demandando, assim, um tempo semelhante para que o cérebro as processe.

Chegou-se, assim, a uma região do córtex temporal esquerdo que era ativada pelas tarefas semânticas, ou seja, pela compreensão das palavras. Através dela, foi visto se a atividade cerebral era relacionada ao som das palavras ou ao seu significado.

O sistema foi criado com padrões que abrigariam as palavras em inglês. Apesar disso, a fórmula desenvolvida por Correia identificou corretamente os animais enquanto os voluntários ouviam a versão holandesa das palavras. Sua equipe, portanto, descobriu que o mesmo conjunto de neurônios era ativado, independentemente do idioma.

— O tipo de abordagem relacionado ao reconhecimento da palavra é uma ferramenta interessante para investigar como e onde o entendimento é representado no cérebro — explica Zoe Woodhead, da Universidade College London, que não participou do estudo. — Palavras com o mesmo significado em diferentes idiomas ativam o mesmo grupo de neurônios, mesmo que estas palavras pareçam e soem de modo completamente diferente.

Um exemplo: a palavra “cavalo”, que em holandês é “paard”, originou o mesmo padrão no cérebro em ambos os idiomas, sugerindo que havia uma mesma atividade representando o significado da palavra — o conceito de “cavalo”. A pesquisa de Correia foi apresentada na última Conferência de Neurobiologia da Linguagem, sediada em San Sebastián, na Espanha.

Compreensão é única em cada indivíduo

Conforme as resoluções das imagens no cérebro aumentam, a fórmula de Correia decifrará pela atividade cerebral um número maior de palavras. Seria possível, no futuro, identificar frases inteiras em tempo real.

— Na ficção científica, todos querem um dispositivo capaz de ler mentes — destaca Matt Davis, da Unidade de Cognição e Ciências do Cérebro da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. — A pesquisa (de Correia) é uma contribuição útil para que isso um dia seja possível.

Os padrões cerebrais identificados por Correia, porém, eram únicos em cada pessoa. Cérebros são como rostos — olhos, nariz e boca estão sempre no mesmo local, mas há uma chance significativa de os detalhes serem diferentes.

— Os significados podem ser depositados sempre na mesma área, mas os neurônios envolvidos seriam próprios de cada indivíduo — pondera.

Para ler a mente de alguém, segundo Davis, um equipamento precisaria primeiramente aprender a representação única que cada pessoa tem de uma palavra.



_________. Grupo identifica como as palavras ganham significado no cérebro. O GLOBO. Acesso em: 03/01/2013. Disponível em: http://oglobo.globo.com/ciencia/grupo-identifica-como-as-palavras-ganham-significado-no-cerebro-7175188#ixzz2GvRoBmQ8 

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